segunda-feira, 23 de março de 2009

Como prevenir e enfrentar bolhas na corrida!

Fonte: Folha de São Paulo
Corri minha primeira maratona em 4h00min20, se bem me lembro. E, ao lado da inexperiência, uma maldita bolha surgida no km 30 foi a culpada por eu não ter corrido sub4 de cara.
A bem da verdade, aquilo não foi exatamente uma bolha. Foi uma obra de arte, um trabalho artesanal que, a partir de um simples roçadinho, construiu uma coisa enorme, na planta do meu pé direito, pegando todo o pouco arco que tenho e ainda ocupando área maior.
O que me salvou foi a Eleonora, que me esperava no km 32, com minhas filhas, todas me incentivando. Não tive remédio senão abrir um sorrisão e continuar correndo, dando um pau na dor. Foi este, então, meu primeiro ataque às bolhas: quando aparecem, bato o pé no chão com mais força, para ela aprender quem manda, e sigo correndo. Isso faz a gente diminuir o ritmo e nem sempre funciona, pois as dores são grandes.
Já ouvi relatos de gente que desistiu de provas por causa de bolhas. E uma ultramaratonista de Taiwan, como você já leu neste blog, teve uma bolha infeccionada que serviu de porta porta para uma bactéria maligna, e a corredora acabou tendo as duas pernas amputadas.
Bom, voltando às bolhas. Desde aquela maratona, em 1999 (neste ano faço o décimo aniversário de maratonas, vou festejar em Porto Alegre, como é de lei), já tive bolhas, bolhinhas e bolhas, nos mais diversos pontos dos pés.
E me dediquei a procurar explicações para as malditas assim como formas de prevenção e tratamento. Vamos ver se consigo passar para você um pouco do que já li.
Bueno, primeiro precisamos saber que há três grandes variáveis envolvidas no processo de produção das bolhas. Se você me perdoa, chamo-as de variáveis "fixas", por mais que a expressão seja contraditória, pois são conhecidas. Falo dos pés, das meias e dos tênis. E não é pouca coisa: só aí são 16 elementos de risco --24 se você contabilizar os espaços entre os dedos.
Primeiro: os pés devem estar limpos e secos, as meias também; os tênis precisam estar secos, pelo menos. A umidade contribui para aumentar o deslize dos elementos envolvidos, o que aumenta o risco de bolhas.
As meias devem ser justas; eu gosto até de tê-las um pouquinho apertadas, pois o tecido vai dar de si ao longo da jornada. Há hoje em dia meias de todo o tipo de material tecnológico, que promete absorver o suor e deixar o pé seco.
Cuidado: aprendi da pior maneira possível que elas têm uma vida útil limitada, diretamente proporcional ao número de vezes que são lavadas. Vão perdendo a elasticidade e o desastre vem (a minha meia predileta me deu duas bolhas na minha mais recente maratona).
Há quem goste de passar vaselina ou algum tipo de creme. Eu nunca usei e nem vejo a lógica de isso dar resultado, pois só deixa o pé mais escorregadio. O que já fiz, porém, foi passar creme nos pés na noite anterior (era uma dessas pomadas anti-inflamatórias, pois estava com dor nos pés). Não sei se isso ajudou ou não, mas o certo é que não tive bolhas.
Quando, porém, você tem bolhas durante uma prova, há basicamente duas coisas a fazer, se a prova não for alguma ultra longuíssima: ou você para ou você continua. Se continuar, o melhor, pelo menos pela minha experiência, é não fugir da bolha. Ao contrário, lute para manter a passada, mesmo que você tenha de dar umas porradas na bolha nos primeiros momentos. Acho que o risco de mudar a passada é muito maior do que a eventual redução de ritmo que a dor provocar nos primeiros momentos.
Bom, uma vez tida a bolha, o que fazer nos dias seguintes, como continuar treinando?
Se não for imprescindível, dê um descanso para os pés por um ou dois dias, especialmente se a bolha for na planta. Correr com dor, seja de que tipo for, é uma porcaria. Alguns acham que isso fortalece o espírito, mas imagino que, para muitos, o resultado seja exatamente o oposto. E um descanso sempre faz bem.
Se a bolha for entre os dedos, que é muito dolorido e, pelo menos para mim, demora mais para passar o efeito danoso, uma opção é usar uma dedeira de silicone. Não é a coisa mais confortável do mundo, mas dá para aguentar em treinos curtos.
Alguns recomendam furar a bolha com agulha esterilizada, mas ou você deixa isso para médicos ou especialistas ou você faz como eu e deixa a natureza seguir seu curso. Passar cremes ou deixar o pé de molho também não funciona: só deixa a pele mais delicada. Se a bolha estourar, mantenha a área limpa. Há quem recomende passar uma pomada antibacteriana, que me parece uma boa medida preventiva.E bola para a frente. Siga seu nariz que a vida é curta e os quilômetros são muitos.
Por Rodolfo Lucena

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