segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Aumente a disposição para a corrida com a alimentação



A alimentação equilibrada, contendo todos os nutrientes, é fundamental para manter o corpo saudável. Os alimentos se relacionam diretamente com a qualidade de vida dos indivíduos, de forma a atuar, também, na melhora do estresse, humor e na disposição física.

Diversos estudos demonstram cada vez mais os benefícios que alguns nutrientes, presentes naturalmente nos alimentos, têm na melhora do bem estar. Eles atuam no cérebro, estimulando a produção e liberação de neurotransmissores – substâncias que transportam os impulsos nervosos, proporcionando a comunicação dos neurônios com as células.

Os principais neurotransmissores relacionados com o bem estar são: serotonina, noradrenalina e dopamina. Essas substâncias são produzidas a partir de alimentos que apresentam: vitaminas C, B6, B12 e ácido fólico; minerais como zinco, selênio e magnésio; aminoácidos tirosina, triptofano e ômega 3.

Sabemos que a atividade física é capaz de melhorar a disposição. Porém, algumas vezes bate uma preguiça para o exercício. É hora de rever sua alimentação.

O aminoácido triptofano participa da produção da serotonina e, por ser um constituinte das proteínas, assim como todos os aminoácidos, está presente, principalmente, em carnes magras, peixes, ovos, leite e derivados. A tirosina, outro aminoácido, participa da síntese de noradrenalina e dopamina. É possível encontrar essas substâncias também na lentilha e no grão de bico.

O ômega 3 é uma gordura que não pode ser produzida pelo nosso organismo, de forma que só conseguimos aproveitar seus benefícios ingerindo alimentos como salmão, sardinha, atum, linhaça. Esse nutriente favorece a comunicação entre os impulsos nervosos e a sensação de bem estar.

A vitamina C fornece ao cérebro os antioxidantes, os quais atuam contra os radicais livres. Já que esse órgão necessita de muito oxigênio para funcionar, a vitamina C diminui a formação dessas substâncias resultantes do processo de oxidação que acontece com a entrada de oxigênio no cérebro. Essa vitamina é encontrada em frutas cítricas como laranja, mexerica, limão, kiwi e morango, no tomate e no pimentão vermelho.

Os minerais (zinco, magnésio e selênio) e as vitaminas do complexo B (B6, B12 e ácido fólico) estão envolvidos na transmissão de impulsos nervosos, produção de energia e serotonina. São encontrados em alimentos como: gérmen de trigo, amêndoa, castanha do Pará, peixes, carne vermelha magra e cereais integrais. A Vitamina B12 só é encontrada em produtos de origem animal como fígado, carnes, ovos. Assim, os veganos precisam suplementá-la.

Para garantir os benefícios que esses nutrientes oferecem na modulação do humor e no aumento da disposição, é necessário também manter hábitos de vida saudáveis. Isto porque, quando o corpo não está saudável, essas substâncias não são sintetizadas de forma adequada e de nada adiantará consumir os alimentos que favoreça a sua produção.

Vale lembrar ainda que certos alimentos fazem o serviço contrário: roubam todo o pique. São os que apresentam elevado teor de açúcar, calorias, álcool, além de corantes e aditivos prejudiciais e que não contribuem com proteínas, vitaminas e minerais. Fuja dos sucos em pó, alimentos ricos em glutamato monossódico (leia rótulos), bebidas alcoólicas em excessos, produtos com gordura trans (biscoitos recheados, bolos industrializados).

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Coração dos atletas se adapta às exigências do esporte


Fonte: Folha.com

As mudanças causadas pela atividade física no corpo dos atletas vão muito além dos músculos sarados e do baixo percentual de gordura.

Uma pesquisa feita por médicos alemães e americanos, publicada na revista científica "Radiology", mediu com precisão, por meio de ressonância magnética, o coração de 26 triatletas e mais 26 homens sadios.

Entre os triatletas, os ventrículos direito e esquerdo estavam 30% maiores do que no grupo-controle. A espessura das paredes do coração também aumentou. No ventrículo esquerdo, a parede ficou 15% mais grossa entre os atletas. O volume de sangue bombeado subiu quase 30%.

Como as mudanças foram simétricas, os médicos as consideraram como adaptações do corpo aos treinamentos. No triatlo, os treinos exigem força e resistência, o que dá um maior impulso às transformações no corpo.

Daniel Arkader Kopiler, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, diz que, antes, médicos viam sinal de doença no coração grande de atletas. "Hoje, sabemos que são modificações fisiológicas."




O volume maior dos ventrículos e a espessura de suas paredes permite que o coração bombeie mais sangue a cada batida. Assim, o oxigênio chega de forma mais eficiente às pernas e aos braços.

Turíbio Leite de Barros, coordenador do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte da Unifesp, diz que, com o maior volume de sangue a cada batida, a frequência cardíaca em repouso cai até pela metade.

"Os batimentos de alguém que não é atleta e tem um coração normal vão a 70 por minuto. Atletas chegam a ter só 35", diz o fisiologista.

As modificações não param no coração. Pernas e braços ganham maios vasos. O corpo produz mais óxido nítrico, substância vasodilatadora. São mais, e mais abertas passagens para o sangue.

Para receber mais oxigênio, as células dos músculos ficam com mais mitocôndrias, as estruturas que produzem energia.

Barros afirma que essas alterações microscópicas são as primeiras a surgir quando a pessoa entra em uma rotina intensa de exercícios. Se o atleta para de se exercitar, elas regridem em dias.

Já as mudanças no coração levam anos, e demoram mais para sumir.

O médico da Unifesp explica que o fato de as mudanças não serem permanentes ajuda a diferenciar as adaptações no órgão causadas pelo exercício de doenças como a insuficiência cardíaca.

"Se mesmo depois de fazer exames ainda houver dúvidas, o médico pode pedir ao atleta que pare de treinar por alguns meses para ver se o coração diminui", diz Barros.

A insuficiência cardíaca é uma das principais causas de morte súbita. Exercícios podem prejudicar quem tem o problema. Alguns sinais podem surgir nos treinos, como tontura e desmaio.

O esporte em si nunca foi ligado ao aparecimento da doença, afirmam os médicos.

Kopiler diz que atividades intensas, como maratonas, podem destruir células do coração, mas não há sinais de que isso afete a saúde.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Obesidade: uma nova epidemia?



Você tem se achado meio gordinho ou gordinha? Adora guloseimas, mas passa longe de frutas, legumes e verduras? Fica horas por dia sentado em frente à televisão, ao computador ou ao videogame? Cuidado: você pode acabar sendo mais uma vítima da obesidade.

No mundo todo, uma em cada dez crianças está com excesso do peso. São 155 milhões, segundo um levantamento feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Destas, aproximadamente 40 milhões são classificadas como obesas, ou seja, estão bem acima do seu peso ideal.

A criança ou o adolescente obeso corre o risco de desenvolver sérios problemas de saúde, como pressão alta, diabetes tipo 2, colesterol alto e até problemas cardíacos – doenças que antes praticamente só eram encontradas em adultos. Também tem muito mais chances de se tornar um adulto obeso. E, como se não bastasse, ainda tem que enfrentar o preconceito e a discriminação das pessoas.

Nos dias de hoje, a extrema valorização dos corpos magros e sarados e a falta de informação fazem com que muita gente pense que a pessoa é obesa porque é preguiçosa ou simplesmente gulosa. Mas as coisas não são tão simples assim. A obesidade é uma doença, mais propriamente uma síndrome, que pode ter várias causas, mas é, acima de tudo, um mal da vida moderna.

Pouca atividade física e alimentos hipercalóricos

Genética, doenças como o hipotireoidismo, morte de um parente ou amigo, baixa autoestima, separação dos pais ou outros problemas emocionais. Essas podem ser algumas das causas da obesidade em crianças e adolescentes. Mas a maioria dos especialistas no assunto concorda: a principal razão para o crescente aumento da obesidade no mundo é o fácil acesso a alimentos hipercalóricos (e o estímulo ao consumo dessas gulodices), combinado com a diminuição da prática de exercícios físicos.

Maria Thereza Furtado Cury, professora do Instituto de Nutrição da UERJ e coordenadora do Grupo Amigos, que atende crianças e adolescentes obesos no Ambulatório do Instituto de Endocrinologia da Santa Casa de Misericórdia, diz que a maioria dos pacientes consultados pelo projeto tem hábitos alimentares muito ruins: “Um excessivo consumo de fast foods, uso de refrigerantes e pouca utilização de legumes e verduras no cardápio diário”.

A situação se agrava, segundo a nutricionista, porque as pessoas não têm mais tanto tempo para cozinhar em casa. “A mãe sai para o trabalho, o pai sai para o trabalho. Então, a criança fica à mercê de uma alimentação muito industrializada”, afirma.

Copiando o modelo americano, as lanchonetes também incentivam as pessoas a comerem cada vez mais, aumentando as porções de comida e reduzindo a diferença de preço entre os tamanhos grande e pequeno. “No meu tempo de criança você comprava, no cinema, um saquinho de pipoca. Hoje você compra um balde de pipoca e um balde de refrigerante”, compara Maria Thereza.

Nas grandes cidades, o medo da violência e o pouco espaço para brincadeiras ao ar livre também têm feito com que as crianças participem menos de atividades que gastam muita energia, como pular corda, pique e queimado. As brincadeiras agora acontecem mais em lugares fechados, dentro de casa ou em lan houses, por exemplo.

As facilidades trazidas pela tecnologia também contribuem para o aumento da obesidade. Cada vez menos, as pessoas vão para escola ou para o trabalho a pé ou de bicicleta. Elevadores, controles remotos, escadas rolantes são símbolos da comodidade da vida moderna. Alimentos empacotados, prontos para serem consumidos também.

Maria Thereza comenta o absurdo do comodismo: “Você pode até achar engraçado, mas tem criança que não come bife porque tem preguiça de mastigar. Laranja, frutas que precisam ser descascadas, eles passam batido”, afirma. Não é esse o seu caso, certo?

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Como o estresse faz você engordar




Fonte: Isto É - Independente

A ciência descobre que as mudanças no organismo causadas pela tensão diária levam ao ganho de peso

Por mais de uma década pairou sobre o estresse a suspeita de influenciar diretamente o ganho de peso. Ela estava basea da principalmente na observação cotidiana de especialistas como o endocrinologista paulista Alfredo Halpern, chefe do Serviço de Obesidade do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC/SP)e um dos mais experientes da área. “Sempre percebi que ele é um fator muito importante para a maioria dos pacientes que atendo”, diz. Mas não havia provas científicas disso. Agora há. Elas emergem de diversos estudos mundiais financiados por entidades como o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês), um dos mais importantes do planeta em matéria de pesquisas e desenvolvimento de políticas de prevenção de doenças. Só no ano passado, o NIH destinou US$ 37 milhões para as investigações sobre comportamentos associados ao aumento de peso com a finalidade de encontrar intervenções efetivas contra a epidemia de obesidade – um problema que atinge, atualmente, cerca de 400 milhões de pessoas no mundo. A estimativa é ainda mais preocupante se forem contabilizados os indivíduos com sobrepeso. “O número sobe para cerca de 1,5 bilhão”, diz o endocrinologista Walmir Coutinho, recém-eleito presidente da Associação Internacional para o Estudo da Obesidade (Iaso).

Nos trabalhos, o estresse tem surgido como um dos mais fortes responsáveis pela subida dos ponteiros da balança. Um exemplo é o estudo realizado por Diana Fernandez, da área de medicina preventiva da Universidade de Rochester, nos EUA. Ela observou 2.782 empregados de uma fábrica de Nova York e constatou que o estresse vivenciado em uma fase de demissões aumentou muito a procura por comidas ricas em gorduras e calorias – elas desapareciam rapidamente das máquinas onde eram vendidas. Mas as complicações causadas pelo estresse foram além. Os trabalhadores disseram não ter tempo para comer bem ou fazer atividade física na hora do almoço porque tinham medo de sair de suas mesas de trabalho por muito tempo. Cansados física e emocionalmente, à noite a maioria se dedicava a ver televisão. “Os que assistiram a quatro horas por dia ou mais tiveram 150% mais chances de se tornar obesos”, disse a especialista à ISTOÉ.

O mesmo fenômeno foi verificado em outro experimento, desta vez feito com animais. O cientista Mark Wilson, da Universidade Emory (EUA), queria também saber se viver em ambiente estressante levava ao consumo de comidas ricas em calorias. Para isso, ele observou o comportamento alimentar de fêmeas do macaco rhesus. Entre esses animais, algumas dominam as outras. As que são submetidas geralmente acabam vítimas de agressão constante, o que as deixa em situação de estresse crônico. Após o experimento, Wilson constatou que a tensão fez com que os animais engordassem. “As fêmeas subordinadas comeram maiores quantidades e várias vezes por dia. Também preferiram os alimentos mais calóricos. Por isso, ganharam peso em ritmo acelerado”, disse Wilson à ISTOÉ.

Por causa de achados como esses, muitos especialistas começam a defender mudanças nos relacionamentos pessoais e profissionais – visando à diminuição do estresse – também com o objetivo de conter o avanço da obesidade. “Os resultados devem ser levados em conta na formulação de estratégias contra o problema”, diz Carol Shively, da Wake Forest Baptist Medical Center. Uma das propostas é que os programas de bem-estar no trabalho examinem a estrutura organizacional e forneçam meios práticos para minimizar o estresse. Além disso, é necessário dar condições para romper o sedentarismo. Uma delas, praticada por poucas empresas no Brasil, é ter uma área equipada para as pessoas se exercitarem antes, durante ou depois do expediente.

Comprovada a conexão estresse-obe sidade, a pergunta que surge é: por quais mecanismos ele resulta em ganho de peso? À luz das recentes descobertas, é possível depreender que ele modifica as respostas do corpo à comida de uma forma extremamente intensa. “Está ficando claro que o estresse crônico altera as respostas do organismo e leva à obesidade”, afirma a endocrinologista Maria Fernanda Barca, do Grupo de Tireoide do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Os estudos estão mostrando que as transformações impostas pelo estresse e que resultarão nos quilos a mais ocorrem em diversas frentes. A mais importante, com repercussões bastante amplas, está relacionada aos níveis de cortisol. O hormônio está associado ao estado de prontidão do organismo. Seus níveis sobem algumas horas antes de acordarmos por ordem do hipotálamo, uma estrutura localizada na base do cérebro que recebe informações do corpo e regula as nossas reações. Ele instrui, por exemplo, as glândulas suprarrenais a liberar o cortisol para que, nesse momento, ele atue como uma espécie de despertador.






De ação prolongada, sua quantidade no sangue cai gradativamente ao longo do dia, chegando a taxas mínimas no final da tarde, numa preparação para o relaxamento da noite. Ou pelo menos deveria ser assim. “Condições como a insônia, a depressão e o estresse crônico mantêm o cortisol alto o dia todo, induzindo o corpo ao alerta constante”, diz a psicóloga Ana Maria Rossi, de Porto Alegre, presidente da Isma-br, entidade internacional voltada para o estudo do gerenciamento do estresse. Um dos resultados dessa exposição sem descanso é que indivíduos em estresse prolongado produzem duas a três vezes mais cortisol do que o normal.

No que se refere aos mecanismos de controle ou ganho de peso, isso é um desastre. O cortisol excessivo representa um sinal de perigo que o corpo traduz como uma ordem para poupar energia diante de uma iminente situação de emergência. Para que a operação seja executada, desencadeia-se uma série de fenômenos. Um deles foi revelado por cientistas do Garvan Institute of Medical Research, da Austrália. Em trabalho com cobaias, eles constataram que, sob estresse crônico, o corpo libera a molécula Y (também chamada de neuropeptídeo NPY). Ela desbloqueia alguns receptores – uma espécie de fechadura química – das células de gordura. O que acontece depois? Como se tivessem recebido uma dose de fermento, as células crescem em tamanho e número.






Mas os pesquisadores verificaram ainda algo tão ruim quanto esse mecanismo. Os animais estressados não só criaram mais gordura corporal como apresentaram diferenças significativas na forma como ela foi armazenada: a maior concentração foi na barriga. “O cortisol favorece o acúmulo de gordura na região abdominal”, explicou Herbert Herzog, coordenador do trabalho. É justamente esse tipo de obesidade que mais preocupa os médicos. É sabido que ela torna os indivíduos mais suscetíveis ao depósito de placas de gordura nas artérias, à doença cardíaca e à diabetes. Existem algumas teorias que explicariam a razão do acúmulo no abdome em situação de estresse. “Estudos mostram que o tecido gorduroso na região da barriga tem receptores para o cortisol”, diz o médico Coutinho, da Iaso.

A ciência descobriu que as alterações hormonais agem também sobre outro mecanismo do corpo: o sistema endocanabinoide, com receptores nervosos no cérebro, fígado, nos músculos e na gordura. Ele desempenha um papel importante no controle do gasto e do acúmulo energético e no metabolismo de gorduras e açúcares. “Uma vez ligado, determina que o corpo guarde mais reservas. E é exatamente isso o que acontece na presença do estresse”, diz o endocrinologista Halpern.

Para piorar, este mesmo sistema está vinculado ao processamento da compensação, quando o corpo, de alguma maneira, procura algo que lhe dê prazer para compensar algum sofrimento. Dessa maneira, submetido a uma tensão diária, ele vai trabalhar de forma a forçar o indivíduo a achar algo que o alivie. Uma das saídas mais efetivas disso, pelo menos do ponto de vista cerebral, é aumentar o consumo de comidas saborosas, ricas em gorduras e açúcares. E lá vão pacotes de biscoitos, barras de chocolates e pães. Isso ocorre porque esses alimentos, indiretamente, provocam o aumento da produção da serotonina, conhecida como o hormônio do bem-estar. Ela relaxa, alivia as sensações dolorosas e até induz ao sono. Portanto, inconscientemente, ingerimos guloseimas quando estamos estressados para responder a um pedido do corpo por mais bem-estar. O problema – e a grande armadilha – é que os alimentos desta categoria são os mais engordativos.

Passa pelo mesmo sistema outro processo recentemente revelado vinculado ao ciclo estresse-obesidade. Cientistas do Scripps Research Institute, na Califórnia, descobriram que, se o organismo for privado subitamente de um alimento que lhe dava conforto – em geral os fatídicos doces e massas –, responde da pior maneira possível. “Ocorre um estresse cerebral e o desencadeamento de uma reação exagerada”, explica Eric Zorrila, coordenador da pesquisa. Na verdade, a pessoa torna-se vítima de uma crise de abstinência, semelhante à que acontece em casos de dependência de drogas. “O cérebro procura voltar ao seu padrão, ao vício de comer alimentos saborosos”, diz Zorrila. Sua conclusão baseia-se em estudo que fez usando ratos. Ele observou que o mecanismo registrado nos animais que tiveram sua dieta alterada segue um roteiro igual, no que se refere à ativação de vias moleculares, ao que é deflagrado na dependência química de álcool e drogas. Em ambos os casos, está envolvida a amígdala, uma estrutura do cérebro relacionada às emoções. “Acreditamos ter revelado uma das bases neuroquímicas que podem resultar no efeito ioiô. Vimos que mudar radicamente de dieta, tirando de uma hora para outra os alimentos a que se está acostumado não é uma boa estratégia”, diz Zorrilla.


Esses novos conceitos vão ao encontro do raciocínio da psicóloga Ana Rossi, de Porto Alegre. Ela trata seus pacientes estressados e obesos com uma técnica que reforça as atitudes positivas em vez de simplesmente enchê-los de restrições. “O cérebro não consegue converter ordens negativas em positivas e mudar comportamentos. Por isso, em vez de privar, é melhor dar instruções positivas”, diz ela. Como seria isso? “É mais eficiente para mudar um hábito eu me imaginar saciada com salada e apenas um pedaço de filé do que tentar colocar na mente que não posso comer carnes gordurosas”, explica a psicóloga.

Mais uma frente que começa a ser decifrada são as relações e as consequências da dobradinha estresse e ansiedade. Algumas respostas começam a vir à superfície. Um estudo realizado pela Universidade de Yale (EUA) acaba de revelar, por exemplo, que a insônia – sintoma evidente da presença das duas condições – contribui de forma expressiva para o ganho de peso. De acordo com o trabalho, ela hiperestimula neurônios do hipotálamo. “Essas células nervosas são muito sensíveis ao estresse. Se forem excessivamente ativadas, podem levar a reações exageradas, como comer demais”, diz o pesquisador Tamas Horvarth, um dos autores do trabalho.

A informação já está servindo para nortear o trabalho dos especialistas. “Peço às pessoas com problemas de peso e sono para adotarem medidas para regularizar as duas coisas, em vez de tratar apenas um ou outro”, diz a nutricionista Noádia Lobão, de Niterói, no Rio de Janeiro. Nas suas consultas, a especialista faz um levantamento aprofundado da qualidade do sono antes de estabelecer uma dieta e costuma indicar chás de camomila ou erva cidreira e doses de fitoterápicos à base de maracujá para ajudar os pacientes a relaxar na hora de ir para a cama. No consultório do cirurgião plástico Rodrigo Federico, de São Paulo, pacientes nitidamente ansiosos também recebem orientação específica. “Oriento para que façam sessões de terapia antes de operar. O estresse pode dar um efeito rebote e levar a pessoa a recuperar o que perdeu”, diz ele.

Embora os pesquisadores saibam que ainda há muito a entender sobre a questão estresse e ganho de peso, a maioria já está feliz com as descobertas realizadas até agora. “Conseguimos identificar uma parte do caminho, da cadeia de eventos moleculares que liga a obesidade e o estresse crônico”, diz o pesquisador Herbert Herzog, da Austrália. Portanto, a partir de agora, se o médico sentar-se à sua frente na próxima consulta e disser simplesmente que o problema é que você come mais calorias do que gasta, desconfie. Ele não está errado, é verdade. Mas, antes de iniciar o tratamento, é preciso saber exatamente o que está levando você a cair nesse ciclo. Pode ser o estresse. E ele deve ser tratado também.