sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Por que eu corro? Um relato para o Instituto de Psicanálise Lacaniana! IPLA

A corrida é uma paixão em que o desejo de conquista pede e ganha passagem
No calendário desportivo de 2013, uma notícia nos tocou: Joy Johnson, uma senhora que, no alto dos seus 86 anos, completou a Maratona de Nova York (42 km) e, no dia seguinte, morreu com seu tênis de corrida nos pés, durante um breve cochilo. Por que para a maioria das pessoas correr nessa idade é uma maluquice?
Até recentemente, pensava-se que haveria duas fases na vida. Uma em que se trabalhava, produzia, angariavam-se bens para fazer o “pé de meia” e outra em que, chegada a aposentadoria, era o momento de sentar na cadeira de balanço, desfrutar da segurança conquistada e ficar no embalo da nostalgia. Atualmente, com as atuais pesquisas e avanços da medicina, a expectativa média de vida já chega aos 75 anos de idade. A perspectiva que a longevidade acena mudou o modo de pensar o envelhecimento e a vida.
A nossa existência, afinal, a que se destina? O que fazer para valer a vida? Joy Johnson, em uma entrevista, dias antes de morrer, afirmou: “Sei que vou estar entre os últimos, mas não me importo. Eu fico feliz porque posso sair da cama todas as manhãs e correr; muita gente de minha idade está em cadeira de rodas.”
Na minha experiência como educador físico, presenciei situações em que alunos acima de 65 anos eram desaconselhados por seus filhos a empreender a aventura da corrida. Conselhos do tipo: não apronte mais essaNão faça essa loucura de correr uma maratonaMelhor é ficar paradinho, descansar e não correr o risco de uma fratura! Traduzindo: por favor, não dê trabalho e não atrapalhe a vida dos filhos.
A corrida é um combustível para pessoas inquietas. É o meio pelo qual elas se apropriam de uma paixão. É a atividade por meio da qual elas descobrem que, apesar da idade, ainda podem fazer algo que as desafie e as impulsione a ir mais além das suficiências. É pela corrida que ousam e superam limites e marcas dantes não pensados. É onde acontecem encontros inusitados e transformadores com outras pessoas e consigo mesmo. É onde a solidariedade, a simpatia, o pulsar da vida pede e ganha passagem.
Por que eu corro? Para me sentir vivo! Para, a cada passo, sentir vibrar em mim, surpreendentemente, a vida. 
Rogério Cardoso é educador físico pós-graduado em Treinamento Desportivo pela UGF e Geriatria e Gerontologia pela UERJ.

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