quarta-feira, 2 de maio de 2018

Entrevista com o atleta Valter Casarin!



Fizemos uma super entrevista com o Valter Casarin contando a sua história na Maratona de Boston! Leia e compartilha! Ficou muito legal!
Prof. Esp. Rogério Cardoso 



Rumo a Maratona de Boston

Por Valter Casarin (Valtinho)

Por que Boston?

A escolha de Boston foi simplesmente por se tratar de uma das 6 majors. Quando eu escutei que as maratonas majors são a pós-graduação dos maratonistas e que Boston é o doutorado, logo eu disse: é essa que eu vou buscar.

O que é necessário para correr Boston?

Boston é a maratona que exige índice. Na minha categoria o índice é de 3:40. No entanto, Boston possui índice sobre índice, ou seja, para se inscrever no primeiro lote é necessário fazer 20 minutos abaixo do índice, no caso abaixo de 3:20. As inscrições no segundo lote o tempo deve estar entre de 3:20 e3:30 e, no terceiro lote, entre 3.30 e 3:40. Como a procura é grande, é necessário garantir tempo para o primeiro lote. Eu me enquadrei neste caso, com meu tempo de 3:13 na maratona SP City.

Como foi a preparação para a prova?

Esta é a parte mais dolorida de uma maratona, os treinamentos. Eu digo que é dolorido quando o nosso objetivo é buscar o recorde pessoal. Minha preparação foi sempre visando o tempo abaixo de 3:06. Toda a minha preparação foi para esse objetivo.
Em acordo com meu treinador Rogério, eu fiz 4 treinos semanais: terça-feira, quinta-feira, sábado e domingo. Segunda, quarta e sexta-feira eu dedicava a musculação.
Os treinos de terça-feira e quinta-feira tinham funções bem específicas de força (subidas) e velocidade (intervalado). Esses treinos iniciavam com distâncias menores e foram crescendo ao longo da preparação. A importância destes treinos é evidenciada pelo aumento de resistência e por aumentar a velocidade.
O treino de sábado era o famoso longão. Iniciando com a distância de 18 km e progrediu até 15 dias antes da prova para a distância de 38 km. Esses treinos foram muito importantes para que meu corpo recebesse o sinal de que ele iria necessitar correr por longo período. Normalmente, eu sempre fui indisciplinado nestes treinos, pois sempre aumentei as distâncias determinadas pelo Rogério.
Já o treino de domingo tinha um objetivo claro de dar mais volume semanal. Tratava se de um treino mais solto, sem preocupação de velocidade, mas sim de soltar o corpo. O pace deste treino era por volta de 5 minutos por km.

Como foi o polimento?

As duas semanas antes da prova o volume de treino semana que estava em torno de 90 km, cai para 40 a 50. É hora de descansar o corpo. Como diz o mestre Rogério: cansar é no treino, na prova devemos estar descansados.

Como eu estava no dia da prova?

Eu estava muito confiante e muito bem preparado. Acredito que essa foi a maratona que eu melhor me preparei. Alimentação correta, muita massa nos dias que antecederam a prova. Dormi muito bem e procurarei não caminhar muito na véspera. Cheguei para o local da prova descansado. Em nenhum momento eu senti qualquer efeito negativo dos treinamentos, pelo contrário, estava me sentindo pronto.

E a prova?

Infelizmente, o clima no dia da prova estava totalmente adverso. Chegamos no local da prova com temperatura abaixo de zero. Os pés já congelados pela chuva fria. As luvas encharcadas, o que fazia que eu não sentia meus dedos. Corri com duas blusas segunda pele e um corta vento. Gorro, luvas e duas meias. Calça legging e, para aquecer as pernas, usei meia de compressão. Eu nunca havia corrido com essa meia.
O meu ônibus chegou com duas e meia antes da minha largada. O frio congelante durante esse tempo provocou dores musculares.
A largada foi debaixo de chuva, mas a euforia não permitiu que esse frio prejudicasse meu desempenho. Até o 5º km eu não estava sentindo meu pé, pois ele estava adormecido pelo frio. Logo comecei a correr melhor, mas um fato que eu não esperava me atrapalhou: tive que parar 5 vezes para fazer xixi. Essas paradas eram demoradas, pois eram várias roupas para serem tiradas. Cada parada demorava de 2 a 3 minutos.
Por várias vezes eu pensei em desistir. O vento gelado fazia a respiração ser doida. No entanto, eu só pensava em tudo que eu passei para chegar ali e quantas pessoas estavam torcendo por mim: neste momento vem a mente a família e os amigos, principalmente os da Fit Labore. A partir disso, meu objetivo foi terminar a prova.
A prova em toda a sua extensão tem público vibrante, passando energia positiva.
Enfim, lá fui eu, com as dores musculares devido ao frio, com uma unha rateando em função do aperto no pé pelas duas meias, a meia de compressão me incomodando e a chuva fria castigando.
Quando entrei na avenida da chegada, vi o portal, aquilo tudo me emocionou de tal forma que comecei a chorar. Receber aquela medalha foi uma grande conquista. a decepção pelo tempo foi invadida pelo orgulho de concluir uma prova naquelas condições.

E o pós-prova?

Em conversa com vários maratonistas, era unânime as dores musculares devido ao frio. Isso me deixa muito tranquilo em afirmar que nada do que eu senti foi em função da minha preparação. Eu tenho certeza que eu consegui terminar essa prova por ter tido uma preparação adequada, caso contrário eu teria ficado pelo caminho. A prova exigiu muito de cada participante. Isso pode ser comprovado pela quebra do queniano.
As dores musculares persistiram por 3 dias.

Lição da prova:

Devemos sempre estar preparado para uma prova, mas sempre estaremos sujeitos a alguma intempérie que foge ao nosso controle. Neste momento é entender e levantar a cabeça para a próxima batalha.

Eu não ganhei uma medalha em Boston, eu conquistei essa medalha!


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