Fonte: Isto É - Independente
Um novo remédio preserva as células produtoras de insulina e pode levar à cura do tipo 1 da doença
Um novo remédio preserva as células produtoras de insulina e pode levar à cura do tipo 1 da doença
Explorar os mistérios do sistema de defesa do organismo é um dos campos de pesquisa mais
promissores da atualidade na busca de novas opções para deter a diabetes tipo 1. Ela se instala no momento em que o corpo inicia a produção de anticorpos contra células do pâncreas, chamadas beta. São elas que produzem a insulina, o hormônio que permite a entrada da glicose nas células – nelas, é usada como combustível. O que, exatamente, deflagra esse processo é uma incógnita para a ciência. Porém, uma vez destruídas, as células beta não se regeneram. Consequentemente, a insulina precisa ser reposta na forma de medicamentos para o resto da vida. A mais recente descoberta para conter essa destruição é uma vacina desenvolvida na Universidade Calgary, no Canadá, e que foi anunciada na edição online do prestigiado jornal científico “Immunity”. “Os testes em humanos começam em dois anos”, disse à ISTOÉ o pesquisador espanhol Pere Santamaría, que esteve à frente do estudo e é diretor do centro de pesquisa em diabetes da universidade canadense.
Para chegar à vacina, os cientistas antes estudaram detalhadamente um dos mecanismos do nosso sistema imunológico. Na iminência da doença, formam-se soldados que tentam defender as células beta dos ataques. Eles são chamados de linfócitos T reguladores e, segundo os pesquisadores, sua capacidade de resistência é o que impõe à doença uma evolução lenta e gradual. A equipe de Santamaría foi atrás dessas células para delas extrair uma proteína envolvida na sua multiplicação. A partir de uma única amostra, a proteína foi sintetizada no laboratório. “Depois, nós a usamos para envolver uma nanopartícula, como se fosse um casaco”, explicou Santamaría.
Nos testes iniciais, essas nanopartículas foram injetadas na circulação sanguínea de ratos com a doença. Percorreram o organismo até encontrar as células reguladoras T e levar, para dentro delas, a proteína incumbida de expandir sua produção. Desse modo, eleva-se a quantidade de soldados do lado que luta para bloquear o ataque às células pancreáticas. Trata-se, portanto, de uma amplificação de um processo de resistência à diabetes já desenhado pelo organismo.
O resultado foi entusiasmador. Parte dos animais ficou curada da diabetes tipo 1 com a nova vacina, enquanto outros passaram a necessitar de doses menores de insulina. “É uma ótima perspectiva para a cura da diabetes tipo 1”, diz Fadlo Fraige Filho, diretor do serviço de endocrinologia do Hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo.
O pesquisador Santamaría acredita que a estrutura criada para a sua vacina poderá ser adaptada para o tratamento de outras doenças nas quais o corpo se autoataca, como a artrite reumatoide. “Tudo o que é necessário fazer é mudar a proteína usada”, diz ele. Entre médicos e pesquisadores, há grande expectativa por mais avanços nessa direção. “Os estudos nessa área são a prioridade de pesquisa no mundo”, diz Fraige Filho.
Entre outras pesquisas que estão em andamento, estuda-se, em vários países, a eficácia de um fármaco a ser ministrado, em três doses, até 19 semanas depois que a diabetes tipo 1 se manifestou também para suprimir a investida contra as células fabricantes de insulina. Outro ponto marcado nesse terreno são as terapias desenvolvidas na Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, e já testadas em seres humanos. Ali, o imunologista Júlio Voltarelli e o endocrinologista Carlos Eduardo Couri recorrem ao transplante de células-tronco para controlar a diabetes tipo 1. Neste caso, a proposta é bombardear e destruir com quimioterapia o sistema imunológico defeituoso, que agride o próprio corpo, para depois injetar células-tronco tiradas de um indivíduo saudável e, desse modo, reiniciar as defesas sem as alterações que as fazem atacar os fabricantes da insulina.
Os pesquisadores também estão ocupados em melhorar a qualidade de vida de pacientes que carregam as bombas de insulina – dispositivos acionados pelo indivíduo para injetar insulina depois de medir, por meio de uma picadinha no dedo, a quantidade de açúcar (a glicose) no sangue. A novidade é um aparelho que funciona como um pâncreas artificial, criado por cientistas do Massachusetts General Hospital, em Boston, nos Estados Unidos, e divulgado pela revista acadêmica “Science Translational Medicine”.
Duas inovações importantes diferenciam o modelo em teste: a primeira é um sistema de medição da quantidade de açúcar no sangue em tempo real. Os dados são coletados por sensores e enviados a um computador, que ministra a dose certa de insulina. A outra é a inclusão de disparos de glucagon, hormônio atuante no equilíbrio dos níveis de glicose no sangue. “Não havia bomba com glucagon. Estudos mostrados em congressos médicos indicam que isso pode manter os níveis de açúcar estáveis no sangue por 24 horas, evitando crises”, diz Fraige Filho. Nos testes, o aparelho deu bons resultados para os diabéticos tipo 1. Por isso, os cientistas pensam em adaptar o protótipo para pacientes de diabetes tipo 2. Neste caso, beneficiaria, no total, 300 milhões de pessoas que vivem com diabetes no planeta.
O perigo da diabulimia
Diabulimia é um termo desconhecido para muitos médicos. Mas não entre jovens com diabetes tipo 1. O nome é uma associação entre a diabetes e o transtorno alimentar da bulimia (para não engordar, a pessoa força a eliminação do que ingeriu através de vômitos). Alguns diabéticos culpam, erradamente, a insulina injetada pela dificuldade em perder peso. Resultado: passam períodos sem tomar o medicamento.
A ciência estuda a associação entre essas doenças. “O medo de ganhar peso se torna maior do que o de ter uma complicação da diabetes”, diz o endocrinologista João Regis Carneiro, do Rio de Janeiro. Como a maioria dos jovens controla sozinho em casa a aplicação do remédio, a redução da dosagem pode virar segredo.
A estudante Heloiza Coelho, 17 anos, de São Paulo, descobriu na internet que meninas diabéticas paravam de tomar a insulina para emagrecer. “A princípio, achei loucura”, conta. “Mas não conseguia afastar o pensamento de que, se não fosse a insulina, teria um corpo melhor.” A jovem foi internada por cinco dias depois de parar de tomar o hormônio. Hoje, controla o peso com atividade física, boa alimentação e faz acompanhamento psicológico.
Para chegar à vacina, os cientistas antes estudaram detalhadamente um dos mecanismos do nosso sistema imunológico. Na iminência da doença, formam-se soldados que tentam defender as células beta dos ataques. Eles são chamados de linfócitos T reguladores e, segundo os pesquisadores, sua capacidade de resistência é o que impõe à doença uma evolução lenta e gradual. A equipe de Santamaría foi atrás dessas células para delas extrair uma proteína envolvida na sua multiplicação. A partir de uma única amostra, a proteína foi sintetizada no laboratório. “Depois, nós a usamos para envolver uma nanopartícula, como se fosse um casaco”, explicou Santamaría.
Nos testes iniciais, essas nanopartículas foram injetadas na circulação sanguínea de ratos com a doença. Percorreram o organismo até encontrar as células reguladoras T e levar, para dentro delas, a proteína incumbida de expandir sua produção. Desse modo, eleva-se a quantidade de soldados do lado que luta para bloquear o ataque às células pancreáticas. Trata-se, portanto, de uma amplificação de um processo de resistência à diabetes já desenhado pelo organismo.
O resultado foi entusiasmador. Parte dos animais ficou curada da diabetes tipo 1 com a nova vacina, enquanto outros passaram a necessitar de doses menores de insulina. “É uma ótima perspectiva para a cura da diabetes tipo 1”, diz Fadlo Fraige Filho, diretor do serviço de endocrinologia do Hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo.
O pesquisador Santamaría acredita que a estrutura criada para a sua vacina poderá ser adaptada para o tratamento de outras doenças nas quais o corpo se autoataca, como a artrite reumatoide. “Tudo o que é necessário fazer é mudar a proteína usada”, diz ele. Entre médicos e pesquisadores, há grande expectativa por mais avanços nessa direção. “Os estudos nessa área são a prioridade de pesquisa no mundo”, diz Fraige Filho.
Entre outras pesquisas que estão em andamento, estuda-se, em vários países, a eficácia de um fármaco a ser ministrado, em três doses, até 19 semanas depois que a diabetes tipo 1 se manifestou também para suprimir a investida contra as células fabricantes de insulina. Outro ponto marcado nesse terreno são as terapias desenvolvidas na Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, e já testadas em seres humanos. Ali, o imunologista Júlio Voltarelli e o endocrinologista Carlos Eduardo Couri recorrem ao transplante de células-tronco para controlar a diabetes tipo 1. Neste caso, a proposta é bombardear e destruir com quimioterapia o sistema imunológico defeituoso, que agride o próprio corpo, para depois injetar células-tronco tiradas de um indivíduo saudável e, desse modo, reiniciar as defesas sem as alterações que as fazem atacar os fabricantes da insulina.
Os pesquisadores também estão ocupados em melhorar a qualidade de vida de pacientes que carregam as bombas de insulina – dispositivos acionados pelo indivíduo para injetar insulina depois de medir, por meio de uma picadinha no dedo, a quantidade de açúcar (a glicose) no sangue. A novidade é um aparelho que funciona como um pâncreas artificial, criado por cientistas do Massachusetts General Hospital, em Boston, nos Estados Unidos, e divulgado pela revista acadêmica “Science Translational Medicine”.
Duas inovações importantes diferenciam o modelo em teste: a primeira é um sistema de medição da quantidade de açúcar no sangue em tempo real. Os dados são coletados por sensores e enviados a um computador, que ministra a dose certa de insulina. A outra é a inclusão de disparos de glucagon, hormônio atuante no equilíbrio dos níveis de glicose no sangue. “Não havia bomba com glucagon. Estudos mostrados em congressos médicos indicam que isso pode manter os níveis de açúcar estáveis no sangue por 24 horas, evitando crises”, diz Fraige Filho. Nos testes, o aparelho deu bons resultados para os diabéticos tipo 1. Por isso, os cientistas pensam em adaptar o protótipo para pacientes de diabetes tipo 2. Neste caso, beneficiaria, no total, 300 milhões de pessoas que vivem com diabetes no planeta.
O perigo da diabulimia
Diabulimia é um termo desconhecido para muitos médicos. Mas não entre jovens com diabetes tipo 1. O nome é uma associação entre a diabetes e o transtorno alimentar da bulimia (para não engordar, a pessoa força a eliminação do que ingeriu através de vômitos). Alguns diabéticos culpam, erradamente, a insulina injetada pela dificuldade em perder peso. Resultado: passam períodos sem tomar o medicamento.
A ciência estuda a associação entre essas doenças. “O medo de ganhar peso se torna maior do que o de ter uma complicação da diabetes”, diz o endocrinologista João Regis Carneiro, do Rio de Janeiro. Como a maioria dos jovens controla sozinho em casa a aplicação do remédio, a redução da dosagem pode virar segredo.
A estudante Heloiza Coelho, 17 anos, de São Paulo, descobriu na internet que meninas diabéticas paravam de tomar a insulina para emagrecer. “A princípio, achei loucura”, conta. “Mas não conseguia afastar o pensamento de que, se não fosse a insulina, teria um corpo melhor.” A jovem foi internada por cinco dias depois de parar de tomar o hormônio. Hoje, controla o peso com atividade física, boa alimentação e faz acompanhamento psicológico.
Como faço para marcar uma consulta com o Dr. Frage filho.
ResponderExcluiralfaiasinderlei@hotmail.com