segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
OS PERIGOS DO EXCESSO DE TREINAMENTO
Por André Yamada
Não há sombra de dúvidas que o treinamento físico moderado e bem controlado proporciona uma miríade de benefícios ao organismo humano. Mas até que ponto nosso organismo consegue suportar todo o estresse imposto a essa maquinaria humana?
Já existem diversos estudos na literatura especializada mostrando que o treinamento intenso não controlado pode levar sim a situações indesejadas prejudicando dessa maneira o desempenho físico e esportivo. Quem nunca antes sentiu ao acordar aquele desânimo e estalar de batimentos acelerados após um treinamento intenso no dia anterior? Pois bem, isso “cheira” que alguma coisa ocorreu de errado com o treinamento. Vamos então adentrar ao fantástico e fascinante mundo da Imunologia do Exercício, uma área de intensa investigação. Cada célula do nosso organismo “rege” uma função específica que coordena todo o sistema fisiológico. Isso não é diferente com as células do sistema imunitário. Essas células (glóbulos brancos) são chamados de leucócitos. Elas são produzidas na medula óssea e liberados para o sangue, linfa e diversos tecidos conjuntivos.
Um adulto normal possui entre 4 mil a 11 mil leucócitos por milímetro cúbico de sangue. Os leucócitos têm a função de combater microorganismos causadores de doenças por meio de sua captura ou da produção de anticorpos. A leucopenia, uma diminuição de leucócitos para menos de 4000 células por mililitro torna a pessoa mais suscetível a infecções. Enquanto a leucocitose (aumento) indica uma resposta inflamatório e infecciosa, como o câncer por exemplo. Os leucócitos podem ser divididos em granulados (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) em linfático (linfócitos) e monócitos. Os neutrófilos estão envolvidos em pequenos processos inflamatórios. Os eosinófilos estão envolvidos em respostas alérgicas. Os monócitos fagocitam células e linfócitos reconhecem agentes invasores específicos. Existem ainda as citocinas, um grupo extenso de moléculas envolvidas na emissão de sinais entre as células durante o desencadeamento das respostas imunes.
As funções das citocinas são: regular a duração e intensidade das respostas específicas e recrutar células efetoras para áreas onde se desenvolvem respostas e induzir a geração e maturação de novas células a partir de precursores. Mas o leitor pode estar perguntando par aonde quero chegar com isso e o que tem a ver com a prática de exercícios? Tem e muito vamos lá. Sabidamente o exercício como uma corrida de 1 hora por dia promove inúmeros benefícios desde adaptações importantes no aparato cardiorrespiratório assim como no aparelho locomotor. Mas se uma pessoa que não está adaptada à uma maratona por exemplo, o que poderia acontecer com este indivíduo?
Em 1997 Nieman e colaboadores conduziram um elegante estudo na qual determinaram que corredores que treinavam mais de 96 km/semana duplicaram as chances para doenças comparados aos corredores que realizavam menos que 32 km/semana. Isso mostra a frustrante vida de atletas que comumente reclamam de resfriados. Assim, pode se compreender que cargas excessivas sem adequados períodos de recuperação podem causar nos atletas um quadro de excesso de treinamento denominado de overtraining. Cabe salientar que hoje, é possível avaliar o status imunológico de um atleta. Atualmente uma constelação de mediadores inflamatórios são considerados marcadores inflamatórios importantes e estão em intensa investigação na pesquisa do exercício. Vale ressaltar que nenhum marcador até agora pode ser considerado chave na interpretação de um sobretreinamento, isso porque muitos fatores influenciam nesses aspectos. Hoje se sabe que a resposta imune não tem só a participação do próprio sistema imune, mas sim da integração do sistema endócrino. Essa interação foi cunhada de sistema neuro-imuno-endócrino. Alguns hormônios do estresse são capazes de modular o ambiente imune. Um dos possíveis indicadores de imuno-supressão é a diminuição dos linfócitos. A diminuição dessas células tem sido correlacionadas com aumento da incidência de infecções das vias aéreas superiores (IVAS).
A partir da revisão publicado na Revista Brasileira de Medicina do Esporte de um estudioso no assunto (Luiz Fernando Bicudo Pereira Costa Rosa in memorian GG) podemos levantar algumas informações importantes. Em relação ao exercício agudo, se observa incrementos dos leucócitos que são recrutados pelos sistemas hormonais. No exercício agudo a resposta dos neutrófilos e macrófagos se mostram aumentados ou estabilizados. No que tange ao treinamento crônico se sabe que o exercício moderado acarreta aumentos nos neutrófilos. Enquanto isso o treinamento de alta intensidade provoca diminuições nos neutrófilos. Para um diagnóstico de um sobretreinamento é preciso levar em conta alterações físicas, psicológicas, bioquímicas, fisiológicas e metabólicas. A fadiga pode ser considerada nesse sentido um sinal de que o treinamento não está adequado ao indivíduo.
A perda de peso (anorexia) também tem sido um indicador do excesso de treinamento e alterações no padrão de sono. Interessante é o fato que um organismo bem adaptado ao exercício é menos susceptível a diversas doenças como câncer, gripes, infecções. No entanto quando o limiar fisiológico é ultrapassado o exercício induz a um estresse que é capaz de danificar os sistemas fisiológicos. Dessa maneira é importante o entendimento da relação dose-resposta sobre o sistema imunitário. Até a próxima.
André Katayama Yamada
Graduado em Educação Física pela UNIMEP, Mestrando em Ciências da
Motricidade-UNESP-Rio Claro Linha Fisiologia Endócrino-Metabólica
Pesquisador do Laboratório de Biologia Molecular da Performance
Humana-UNIMEP e Estagiário do Laboratório Max Feffer de Genética de
Plantas da ESALq-USP, do Laboratório de Bioquímica e Biologia
Molecular da UFSCar e do Laboratório de Investigação em Resistência à
Insulina da UNICAMP.
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Olá Rogério!
ResponderExcluirSei que na musculação, o ideal é dar um ou mais dias de descanso entre os treinos para o mesmo grupo muscular. Porém, e se invés de musculação, a pessoa pratica ginástica localizada com pouco peso, cujo objetivo é somente tonificar o músculo sem deixa-lo muito definido? Ou seja, quando a pessoa somente deseja ficar com o corpo "durinho" sem os músculos muito aparentes. Nesse caso, o treinamento deve ser diário, ou em dias alternados igual na musculação?
Agradeço muito se puder me responder!
Abços e parabéns pelo ótimo blog